Crítica de O Pacto (The Covenant) por Pablo Vilaça
Dirigido por Renny Harlin. Com: Steven Strait, Laura Ramsey, Sebastian Stan, Taylor Kitsch, Chace Crawford, Toby Hemingway, Jessica Lucas, Kenneth Welsh.
Em seus 20 anos de carreira, o cineasta finlandês Renny Harlin realizou apenas um filme realmente digno de nota: o tenso Risco Total, estrelado por Sylvester Stallone e John Lithgow em 1993 (também gosto de Do Fundo do Mar e, em parte, de Duro de Matar 2, mas reconheço que são profundamente falhos). Nos últimos anos, porém, Harlin parece ter mesmo atingido o fundo do poço: Alta Velocidade e O Exorcista: O Início são pavorosos e Caçadores de Mentes, apesar de um ou outro momento mais inspirado, foi lançado praticamente direto em DVD. Ainda assim, confesso que fiquei surpreso com este O Pacto: por pior que fossem as perspectivas futuras do diretor, jamais imaginei que ele se sujeitasse a assumir o comando de um terrorzinho adolescente que busca pateticamente explorar, com mais de duas décadas de atraso, o sucesso do ótimo Garotos Perdidos, de Joel Schumacher.
Escrito por um dos picaretas mais prolíficos de Hollywood, J.S. Cardone (Vampiros do Deserto), O Pacto é um destes filmes que sentem uma necessidade pavorosa de iniciar suas histórias com vários letreiros explicando a “mitologia” que precede os acontecimentos que veremos – algo que denota, simultaneamente, a pretensão e a incompetência de seu roteirista. Aqui, Cardone cria uma trama que gira em torno de quatro rapazes que, descendentes de uma família de bruxas, vivem em uma pequena cidade enquanto esperam completar 18 anos – ocasião na qual irão “ascender”, tornando-se incrivelmente poderosos. É então que o líder do grupo começa a ter visões assustadoras que podem estar relacionadas com a morte de um estudante local, comprometendo também sua relação com a recém-chegada Sarah. Para piorar, é possível que um misterioso bruxo esteja querendo matá-los para “sugar” suas habilidades.
Repleto de diálogos dolorosamente expositivos (“Estes poderes que você e seus amigos desenvolveram aos 13 anos de idade...”) e de um subtexto politicamente correto que irrita pela obviedade (o Ministério da Saúde adverte: utilizar a magia é viciante e provoca envelhecimento precoce), o roteiro de Cardone é esquemático do início ao fim, permitindo que o público perceba com facilidade não apenas a identidade do vilão assim que este surge em cena pela primeira vez, mas também que antecipe praticamente todos os principais incidentes da trama (quais são as chances de que Sarah se torne refém do bandido?). Como se não bastasse, O Pacto emprega o recurso básico de todo longa de terror sem imaginação, mas desesperado para provocar sustos, trazendo várias seqüências de pesadelo que sempre são concluídas com um personagem acordando sobressaltado em sua cama. E se ganhássemos um real por cada cena que traz alguém se aproximando silenciosamente por trás de outra pessoa, assustando-a, estaríamos ricos ao final da projeção.
Claramente produzido para arrancar dinheiro do público adolescente, o filme investe em fetiches básicos do macho púbere, trazendo colegiais vestidas com saias e meias compridas (estamos no Japão?) e que não hesitam também em usar roupas mínimas mesmo quando um temporal desaba sobre a cidade. Além disso, a disputa entre os jovens bruxos remete a conversas de vestiário, já que a comparação da extensão dos poderes de cada um funciona como metáfora pobre de obsessões masculinas juvenis do tipo “meu pau é maior do que o seu!”. Para completar, a ridícula fala “Ele está com ciúmes porque você vai ascender primeiro.” mal esconde o orgulho de Cardone por incluir outra representação porca da corrida adolescente pela perda da virgindade.
Inconsistente também no desenvolvimento da trama e dos personagens, O Pacto não se envergonha em mostrar os heróis encontrando de registros de adoção a recortes antigos de jornal em uma biblioteca de colégio de segundo grau (!) e tampouco parece perceber a contradição ao mostrar o protagonista usando seus poderes para consertar um pára-brisa em público logo depois de advertir os companheiros contra a utilização da magia por motivos fúteis e diante de outras pessoas. Da mesma maneira, a cena que traz uma colisão entre um caminhão e o carro do herói (que instantaneamente se reconstrói) merece destaque pelo descaso com que Renny Harlin a coreografa: depois do susto provocado pela batida, o caminhoneiro nem sequer pára para ver o que aconteceu, continuando sua viagem sem maiores preocupações.
Aliás, já que citei esta cena, é importante mencionar que os efeitos visuais presentes em O Pacto são dignos de uma produção pobre realizada para a televisão (a utilização de greenscreen é medonha), perdendo apenas para os ridículos efeitos sonoros criados para acompanhar os golpes produzidos pelos poderes dos bruxos. Por outro lado, se normalmente eu reclamaria dos bonecos digitais inseridos no lugar dos atores em cenas de ação, desta vez ignorarei a questão, já que estas criaturas computadorizadas certamente são mais expressivas do que qualquer membro do elenco composto por indivíduos que certamente se sentiriam mais à vontade posando de cuecas para um catálogo de roupas.
Sem capacidade de recriar um décimo da atmosfera divertida de longas como Jovens Bruxas ou o já citado Garotos Perdidos, o máximo que este O Pacto consegue é transformar-se, em seus instantes finais, em uma espécie de Mortal Kombat para imbecis. E, ainda assim, com dificuldade.
Fonte: Cinema em Cena
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