Dizer que uma história em quadrinhos tem como tema central a investigação de uma morte não seria muita novidade. A história (inclusive a em quadrinhos) muda quando o morto é um anjo e o caso se passa no reino divino, antes mesmo da criação do universo. Quem, então, seria o autor? É esse o enredo de "Mistérios Divinos" (Devir, R$ 42), álbum que começou a ser vendido nesta virada de semana.

A história é baseada num conto escrito pelo inglês Neil Gaiman, criador do cultuado Sandman. A adaptação ficou a cargo de P. Craig Russell. A trama começa no nosso presente, em Los Angeles. Um desconhecido aparece, fila um cigarro e se oferece para contar uma história. É a tal do assassinato no reino divino. O desconhecido narrador diz ser Raguel, o anjo da vingança convocado por Lúcifer (já trabalhado de outra forma em Sandman) para descobrir o autor do crime.

A investigação se passa no momento em que um grande projeto é coordenado por todos os anjos, o da criação do universo. Os "arquitetos" tentam simular tudo o que, para nós, é óbvio. Desde o caixão para enterrar os mortos até os sentimentos mais básicos. Gaiman trabalha bem o ar de novidade entre os anjos quando tentam criar o medo, o arrependimento, o sonho, a morte, a paixão.

Os sentimentos simulados e a morte do anjo caminham juntos na trama. Quando o autor do crime é descoberto, a história volta à Terra e ao nosso presente. E tem um dos desfechos mais inesperados dos quadrinhos.

"Mistérios Divinos" já tinha publicado no Brasil. Era um dos 31 contos de "Fumaças e Espelhos: Contos e Ilusões", livro de Neil Gaiman publicado em 2004 pela editora Via Lettera. Ver a história quadrinizada dá a inevitável impressão de que se trata de um dos capítulos de Sandman. Mas não é. É o estilo de Gaiman que se impõe mais uma vez.

Fonte: Blog dos Quadrinhos