terça-feira, outubro 17, 2006

Último Álbum de Eisner investiga mentira anti-semita

O complô – a história secreta dos protocolos dos sábios do Sião

Durante muitos anos o conteúdo do livro Os protocolos dos sábios do Sião foi tido como verdadeiro. Dava conta de um suposto encontro de líderes judeus, os tais sábios de Sião, com o objetivo de traçar uma estratégia de dominação mundial. O livro ganhou ares sinistros ao ser usado como justificativa para o anti-semitismo. Teve edições impressas no mundo inteiro e Hitler fazia menção à obra em seu livro Minha luta. Mas os Protocolos nunca passaram de uma farsa produzida por membros do governo russo, e, mesmo depois de ter sido desmascarado, ainda na década de 1920 pelo jornal inglês The Times, continuou tendo status de obra pretensamente séria e até hoje é amplamente divulgada em países islâmicos.

É a história dessa farsa que Will Eisner destrincha de forma didática no álbum O complô – a história secreta dos protocolos dos sábios do Sião (Cia. das Letras, 160 páginas, R$ 36). Filho de imigrantes judeus, Eisner conviveu desde cedo com o preconceito e, quando reportagens em 1999 adicionaram novas informações sobre a farsa, ele decidiu reunir as provas em um álbum que fosse “outro prego no caixão dessa fraude tenebrosa e vampiresca”, como afirmou na introdução de O complô. Foi seu último trabalho antes de morrer, no dia 3 de janeiro de 2005.

O livro que deu origem a Os protocolos não tinha nada a ver com os judeus. “O diálogo no inferno entre Maquiavel e Montesquieu” foi escrito em 1864 por Maurice Joly com a intenção de criticar o ditador francês Napoleão III. Um tortuoso caminho levou o livro de Joly a se tornar base para Os Protocolos.

A farsa surgiu na Rússia, como forma de apaziguar os ânimos da população, insatisfeita com o czar Nicolau II. Assessores do monarca resolveram criar uma história falsa sobre uma conspiração judia como forma de desviar a atenção do povo dos problemas reais. Naquela época já aconteciam os pogroms, campos de concentração para onde os judeus russos eram enviados.

Especialista em plantar notícias em jornais, Mathieu Golovinski ficou encarregado de adaptar o livro de Joly. Golovinski fez um plágio descarado, mudando pouca coisa para desfavorecer os judeus. Como a reportagem de 1921 do jornal inglês The Times mostrou, há trechos inteiros da obra de Maurice Joly simplesmente copiadas.

Em 1905, Os protocolos foram publicados pela primeira vez na Rússia e, como uma reação em cadeia, se espalharam pelo mundo, servindo de inspiração para regimes nefastos como o nazismo, por mais que o plágio fosse desmascarado mais de uma vez ao longo dos anos.

Eisner, mestre da narrativa em quadrinhos, fez de O complô quase um livro didático, contando a história em ordem cronológica e dando atenção por várias páginas aos trechos plagiados por Golovinski. Chega a ser maçante em alguns momentos, mas Eisner queria fazer uma obra definitiva, sem espaço para duplas interpretações. Ele queria evitar o que aconteceu com todas as reportagens que denunciavam a farsa dos protocolos e acabaram sendo esquecidas. “Apesar de tais revelações, os Protocolos continuaram ganhando mais exposição e credibilidade. Com os quadrinhos, existe a possibilidade de lidar de frente com essa propaganda numa linguagem mais acessível”, afirmou.

Mesmo otimista, Eisner termina seu álbum com a imagem de uma sinagoga em chamas. Os pregos no caixão dos Protocolos ainda estão meio soltos.

Fonte: G1

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