sábado, setembro 09, 2006

Mark Millar diz que a indústria de quadrinhos ainda vai crescer mais – antes de entrar em um novo período negro

Guerra Civil

O escritor escocês Mark Millar (Wolverine, Civil War) vem há anos defendendo sua teoria de que a indústria de quadrinhos norte-americana tem suas altas e baixas regidas por uma economia de ciclos. Estes ciclos seriam de 20 anos: os quadrinhos tiveram um boom econômico nos anos 40, decaíram nos 50, ressuscitaram nos 60, voltaram a cair nos 70, tiveram um ótimo período nos 80, levaram um terrível baque nos 90 e, hoje, atravessam uma nova fase de encher bolsos.

"Vinte anos depois de Crise nas Infinitas Terras Crise Infinitae Guerras Secretas temos Crise Infinita e Guerra Civil no topo das listas", compara o escritor.

Como mais grana rolando faz mais gente fazer quadrinhos, o subproduto da grande quantidade de publicações geralmente é um ganho (mesmo que pequeno) em qualidade. Os anos 60 geraram a Marvel de Stan Lee e Jack Kirby, os 80 nos deram Watchmen, Cavaleiro das Trevas e outras obras inesquecíveis. Os anos 00 podem ainda não ter suas grandes obras, mas há sérias candidatas.

Millar defende que os altos e baixos intensificam-se a cada ciclo – enquanto os anos 60 encheram os bolsos de algumas editoras, os anos 80 tornaram alguns criadores milionários: os artistas que fundaram a Image Comics. Com isso, Millar pensa bem, bem alto: "Será que o próximo Harry Potter virá de uma criador de quadrinhos? Será que teremos o primeiro bilionário dos quadrinhos dentro de poucos anos?"

Como os gibis gerariam um bilionário? Foi para falar disso que ele lançou, esta semana, uma espécie de manifesto no site Newsarama, onde defende que estamos num ótimo período econômico das HQs, que deve ficar ainda melhor até o fim da década, antes de levar um novo baque nos anos 2010. E como essa queda vai chegar? Por culpa de quem mais tem injetado dinheiro na indústria de gibis: Hollywood.

Em busca de novas idéias para a telona, a indústria cinematográfica caça-as nas páginas coloridas, resultando em recordes de bilheteria como Homem-Aranha 2. Isto já é um movimento de quase uma década. O que Hollywood vem fazendo nos últimos anos? Cortar o intermediário: pegar diretamente o argumentista de quadrinhos para criar diretamente para a telona, e o artista para trabalhar em direção e concepção visual. Um pessoal que é facilmente atraído por salários de sonho, que superam em dez vezes ou mais o que ganham nos gibis.

Millar disse que esse é o movimento que causará o próximo período de vacas magras – que, pelas suas previsões, deve atingir o ponto mais desesperador em 2013. Com escritores e artistas migrando para Hollywood, não haverá talento para sustentar os quadrinhos nos EUA.

"A ficha caiu há alguns dias, quando requisitei um artista e descobri que ele não está pegando trabalhos pelos próximos dezoitos meses porque acabou de conseguir uma vaga num grande filme de ficção científica. (...) Da mesma forma, todo escritor que eu conheço tem um contrato para filmes no momento. Não consigo pensar em um profissional atuante nas duas grandes editoras que não esteja envolvido de alguma forma com Hollywood", justificou Millar. "Não é inconcebível imaginar que seus empregos de meio-turno em filmes tornem-se de turno integral nos próximos poucos anos".

Millar segue dando exemplos de amigos do ramo que estão trocando Marvel e DC por Warner ou Dreamworks, muitas vezes sem citar nomes. Os citados, porém, são de peso: Frank Miller não só co-dirigiu Sin City como será diretor solo da adaptação de Spirit; o excelente John Cassaday (Astonishing X-Men) anunciou seu primeiro trabalho como diretor há alguns meses; Brian K. Vaughan (Y: O Último Homem, Fugitivos) está ativamente envolvido com roteiros cinematográficos.

"Estamos espertos quanto a picos e depressões agora e sempre pensei, como Alan Greenspan e o chanceller britânico Gordon Brown tambem pensavam nos últimos anos, que a administração cuidadosa da economia poderia tornar o crescimento estável uma realidade e evitar o retorno a picos e depressões. Mas será que consegue? Ciclos econômicos são coisas vivas, e a história nos mostrou que eles são tão incontroláveis quanto as marés", assevera o escritor escocês.

Há quem diga que Millar está novamente lançando uma idéia para aparecer, ou por deslumbre. Ele já aprontou antes: anunciou que Eminem seria o ator principal do filme baseado em sua série Wanted e apostou que Jim Caviezel, o Jesus de A Paixão de Cristo, seria o próximo Super-Homem das telonas. Suas "fontes", pelo jeito, não são nada confiáveis. Alguns comentaristas dizem que seu manifesto é resultado de conclusões apressadas após ele receber alguma proposta milionária de Hollywood.

Já o escritor de quadrinhos e roteirista cinematográfico Cristos N. Gage comentou no fórum do site Millarworld que não vê criadores de HQs bandeando-se tão facilmente para o cinema, pois Hollywood dá pouquíssima liberdade criativa. "E há uma razão para muita gente, especialmente escritores, estarem indo de Hollywood para os quadrinhos... É muito melhor, mais sadio, as pessoas são mais legais, e você pode contar sua história sem uma dúzia de pessoas mijando nela", comentou Gage.

Millar mantém sua tese, mesmo com as críticas. Se ele está certo ou não, vamos saber em 2013.

Fonte: Omelete

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