segunda-feira, julho 03, 2006

Superman - O Retorno é exibido para a imprensa em SP

Brandon Routh parece clone mais jovem de Christopher Reeve

SÃO PAULO - É um pássaro? É um avião? Você já ouviu essas perguntas tantas vezes associadas à figura do Super-Homem que elas terminaram por perder a eficácia. À luz da releitura que o diretor Bryan Singer, X-Men e X-Men 2, faz do personagem dos quadrinhos, convém substituí-las por outras - é um filme de aventuras? É um melodrama?

O novo Superman teve sessão especial para a imprensa hoje de manhã. É muito legal. Começa com a volta do Superman para Metropolis. Passaram-se cinco anos e o mundo mudou durante sua ausência. Mudou principalmente no foro íntimo - seu pai adotivo morreu, o que faz do herói, como do Homem-Aranha de Sam Raimi, um órfão. Essa ausência do pai não é fortuita, claro. Tem algo a ver com uma metáfora sobre a América atual. O pai morreu, a amada se casou com outro e tem um filho. É um choque e tanto para Clark Kent/Superman.

Quando o herói regressa, Lois está para receber o Pulitzer justamente por uma reportagem intitulada “Quem precisa do Super-Homem?” Ela expressa o ceticismo de uma era, à qual Superman vai trazer, de novo, a esperança, a crença em valores éticos, tudo aquilo que lhe ensinou seu pai de Krypton, Kal-El, quando disse que a humanidade é basicamente boa, só precisa de um impulso. É curioso assinalar que o vilão Lex Luthor trabalha com especulação, não imobiliária, mas da própria Terra, usando para isso o desequilíbrio ambiental - não pode ser mera coincidência, já que a política ambientalista do presidente George W. Bush é uma das principais bandeiras dos que lhe fazem oposição.

A aventura é cheia de efeitos especiais, de humor. Rende uma supermatinée. Mas há o lado melodrama. A volta do Superman o coloca no vértice de um triângulo. O próprio Douglas Sirk, rei do melô, não filmaria cena mais bela do que o reencontro de Superman e Lois no avião que ele salvou, no início. A troca de olhares, o sobressalto, a intensidade, tudo roça o sublime. É um filme de aventuras e um melodrama. Equilibra o grandioso e o íntimo. Tudo isso é verdade, mas o aspecto mais interessante, o mais ousado e original de Superman - O Retorno não está em piadinhas como a do Oscar (veja para saber qual é). Está na audácia de Singer ao definir o conceito de seu filme. Ele mistura elementos de dois dos maiores blockbusters do ano e os coloca em perspectiva, O Código da Vinci e Poseidon. São os temas do sacrifício e da assunção, que conferem a Superman - O Retorno uma inesperada dimensão teológica.

No barco que vai a pique, as pessoas estendem a mão, desesperadas, e chocam-se com o vidro que as separa da vida. O herói intervém, mas ele não é humano, embora tenha sido criado por humanos. Como o Cristo, ele se oferece em sacrifício e há toda uma discussão sobre a relação entre o Pai e o Filho. Dito tudo isso, como primeira impressão, só resta falar do ator. Brandon Routh, que faz Superman, parece clone mais jovem de Christopher Reeve, que já havia sido escolhido para o papel por sua semelhança com o personagem dos comics. Justamente, os quadrinhos - aquela cena em que Superman levanta o carro com as mãos é uma homenagem. Era a capa da revista em que surgiu o herói, criado por Schuster e Siegel em 1938.

Fonte: Estadão

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